Sunday, January 21, 2018


ATENÇÃO:  NÃO PORNOGRAFICO  

Eu de início pretendia publicar aqui somente pornografia, e quase pornografia, deixando os demais gêneros para meu perfil no Deviantart. Mas, contudo, todavia, lá quase todo mundo com quem eu me correspondo esporadicamente adota o idioma gringo. E eu estou com confessa preguiça de traduzir isso, que por outro lado também não quero deixar morrer no HD. É o primeiro capítulo de uma estória de fantasia que eu tenho intenção de continuar (bem verdade que o histórico dessas intenções não é de todo imaculado). 

Comentários são bem vindos.        




Xar, o Poder Hereditário

Preâmbulo de uma  Guerra




     Elerom Tondro pegou sua cria pela primeira vez. Era o sétiom dia do ano, e o sétimo dia de vida da menina fora do ventre de Virnala. O pequeno ser ainda não tinha um nome, nem menos provisório.

     Elerom e sua esposa pertencem a um dos ramos menores da família Tondro. O sangue Xar  que os eleva e a seus parentes acima dos demais humanos foi algo diluído por relações com plebeus. No caso desta linhagem isso ocorreu vinte e duas gerações atrás, escolha infeliz de um indivíduo egoísta, mas esse é uma excessão. Quase sempre aqueles irmãos que não foram escolhidos para herdar o patrimônio da linhagem são unidos a linhas muito mais fracas de Xar, ou totalmente desprovidas dele: As Torres Nupciais compreendem a necessidade de reforçar a  hierarquia dentro das famílias, embora aleguem não interferir nas disputas pelo poder entre diferentes famílias eupátridas.

    Felizmente para Elerom, nesse caso a mistura não enfraqueceu o Xar  aponto de borrar seus efeitos a ponto de torná-los irreconhecíveis. Quando isso acontece os eupátridas são forçados a vidas de humilhação na periferia do mundo de seus parentes, e a confiar apenas em direitos legais e somente na própria formação militar para assegurar esses direitos.

    Como todos os Tondro dignos do nome a filha de Elerom foi gerada no primeiro dia do ano, e nasceu no primeiro dia do ano seguinte. E ela jamias adoecerá, jamais irá adquirir cicatrizes ou mutilações, jamais conhecerá a decadência da velhice.

    Antes desta cria Virnala Tondro, escolhida pelas Torres para ser esposa de Elerom, teve dezessete  gestações. Nenhuma delas resultou em uma vida viável. 

     Já que nasceu viva a menina ainda sem nome será alvo de conspirações e atentados durante todo o tempo em que permanecer respirando. Outras famílias Xar tentarão matá-la para enfraquecer os Tondro. Outras linhagens Tondro tentarão matá-la para gerar mais espaço para si mesmas. E foras da lei tentarão sequestrá-la para através dela introduzir o precioso Xar em suas próprias desinteressantes linhagens.

    Mas pelo menos por agora, enquanto está nos braços de seu pai, a menina sem nome está protegida.

    O quarto do casal está quente e confortável, a pesar do frio que faz lá fora. E a iluminação confortavel proveniente da malha de cipós de disgu que cobrem as paredes e o teto se combina com o odor doce dos incensos que estimulam a planta a produzir essa luz, criando uma sensação quase hipnótica de serenidade e satisfação. Esta planta e o incenso associado a ela foram deliberadamente selecionados pela intencidade do efeito, suficiente para obter letárgica obediência de quase qualquer um que não pertença à família. Mas plantas similares são comuns em castelos eupatridas, e podem ser encontradas até mesmo em algumas residências de mal nascidos.

     Pelas vantágens que trás o Xar dos Tondro é mais invejado do que muitos outros. Saúde e vigor sobre-humanos; o poder de regenerar completamente partes do corpo tais como braços e pernas decepados, olhos e órgão perfurados ou arrancados do corpo; imunidade a venenos, exceto alguns raros, e caros, extratos preparados especificamente para afetá-los; além de uma pequena vantágem adicional. E também, é claro, a eterna juventude.

     Mas mesmo com tudo isso os Tondro estão no limbó esfumaçado que separa as Grandes Casas das famílias Xar menos relevantes. Uma posição que causa infelicidade em muitos Tondro, e que resulta de milênios de lenta decadência. Milênios fixados na memória de muitos dentre os principais membros da família.

     As terras Tondro não se expandiram mais do que cinco vezes desde que o primeiro dos sempternos considerados como “imortais” nasceu. No mesmo período algumas famílias adquiriram muito mais tanto proporcionalmente quanto em termos absolutos, e várias outras saíram do nada para elevar-se acima dos sempternos.

     Bem verdade que, também nesse período, muitas outras casas foram do topo da hierarquia Xar à inexistência. Mas o orgulho de regra fecha os olhos dos Tondro a esta comparação, que lhes seria favorável. Eles lembram, ao invés disso, que o número de membros da família oscila em torno do mesmo marco desde os anos em que a Cidadela-Fortificada dos Tondro ficou pronta.

     Esta noite Elerom será afastado de sua pequena fortaleza muito antes de o Sol brotar no horizonte pelo mesmo assunto que o impediu de estar presente durante o parto de sua primeira descendente. Uma guerra de extermínio, que poderia em tese abrir finalemtne algum espaço para o crescimanto da família.

    Seria a primeira guerra dessa escala em seiscentos anos. Durante a última Elerom ainda era um jóvem tentando conquistar reputação em duelos e nos combates em festivais sazonais. Uma das maneiras de imprecionar as Torres Nupciais e influenciar positivamente a escolha delas.

     Os Vindhar estão dando início ao movimento dàs pesadas e imprevizíveis engrenágens da Grande Guerra, desta vez.  Um deles veio pessoalmente até o Lago dos Gigantes, que fica na metade do caminho entre o primeiro marco geográfico das terras Tondro e a Cidadela-Fortificada dos imortais, trazendo uma reivindicação justa. Ou, pelo menos, juridicamente inafastável.

      Em se tratando dos Vindhar a visita em sí já carrega toda a intimidação necessária para acordar qualquer família eupátrida e já garante toda a atenção necessária ao grave tópico. Os Vindhar são a primeira dentre as famílias eupátridas atuais, e se um de seus membros avançasse alem daquele ponto em direção à cidadela Tondro isso já seria uma declaração de guerra conforme os tratados vigentes entre essas famílias.

     O Xar dos Vindhar, que lhes trouxe a primazia, ameaça qualquer um de quem eles se aproximem.

     Os Vindhar escutam pensamentos alheios e quando querem também os esculpem, de acordo com os próprios interesses. Os membros da primeira dentre as nobres famílias podem ver, ouvir e sentir a partir dos corpos de outros, e quando lhes convém eles falam, amam e matam desse modo. Em seu próprio território a família controla os mal nascidos como marionetes de carne, sempre que isso é conveniente. Raramente algum dos súditos percebe ou guarda memória disso.

    Um degral acima nessa pirâmide o patriarca da família desfruta de controle absoluto sobre seus parentes. Na Cerimônia de Lealdade cada membro da famíla abre sua mente para o Senhor da Cidadela-Fortificada, entregando a ele os mapas e sigilos necessários para que um telepata assuma total controle sobre a mente e o poder de outro. Graças a isso o elo entre o patriarca e seus parentes se intensifica o suficiente para que o primeiro se comunique com segundo em qualquer lugar do mundo, não apenas nos limites das terras da família. Embora neste caso a ligação seja imperfeita, fraca demais para permitir efetivo controle.  

           Poucas defesas, exceto a distância física, são capazes de proteger alguém contra os Vindhar. Ainda que parcialmente.

     Os Tondro estão no seleto grupo dos que não ficam completamente indefesos diante dos telepatas. Suas mentes são difíceis de invadir. E com o passar dos séculos elas se tornam quase inexpugnáveis, graças a exercícios de disciplina mental diários diligentemente praticados para blindar cada membro da família contra os Vindhar. Se a disciplina nem sempre á perfeita ao menos ela costuma durar o suficiente para que o Tondro sob ataque fuja, ou mate o Vindhar que tenta dominá-lo.

     No seleto grupo, junto com os Tondro, está a família Sanga. Mestres dos chamados “Guerreiros de Fumaça”.
     Embora não sejam mais difíceis de controlar que o mal nascido médio os Sanga criam com seu Xar figuras de contornos vagamente humanos aparentemente compostas de fumaça escura mas cujas armas de fumaça matam tão bem quanto as correlatas de aço. Esses servos impessoais podem ser programados com antecedência para ignorar comandos e atacar até que o telepata que assumiu o  cotrole da mente de seu mestre esteja morto. Esse mesmo gatilho é usado para proteger os Sanga de tentativas de assassinato que sejam feitas enquanto eles dormem e nem mesmo o mestre conseguiria parar os guerreiros de névoa depois que o gatilho é acionado.

     Dentre as grandes famílias os Pergo são os únicos que contam com alguns membros totalmente imunes ao Xar dos Vindhar. Ainda que o patrianca da principal família se dedicasse pessoalmente e investisse todo o poder mental da família  combinado em um único ponto o mais fraco desses Pergo estaria fora de seu alcance.

     Chamados de “Barqueiros” os Pergo governam vastas planices alagadas, cortadas por rios largos e estreitos, doces e salinos. E também atravessam os dois rios que supostamente separam os mortos dos vivos. Cadáveres se levantam sob as órdens dos Pergo para lutar por eles e servi-los. Quando esses cadáveres pertencem a mal nascidos e a eupatridas de outras famílias eles agem apenas enguanto  o Xar que os convocou continua a alimenta-los e são incapazes de desobedecer as ordens de quem os trouxe de volta. Mas alguns dentre os mais poderosos Pergo conseguem manter a si mesmos ativos, com seu poder interno, livres para agir como desejarem e indetectáveis por quaisquer telepatas.

     Os Lagram, chamados Animalistas ou Metamorfos, são considerados uma família menor, atualmente. A maioria das linhagens nasce com a capacidade de adotar a forma de um animal, e mesclar essa forma alternativa com a humana em diversas combinações. O estado flúido de seus pensamentos permite que escapem dos Vindhar em alguma medida. São notórios os casos em que um dos telepatas insistiu em perseguir certo Lagram no labirinto de sua mente não humana e terminou a aventura irreversivelmente insano. 

       Mas mesmo esses afortunados cujo Xar oferece graus de proteção contra os Vindhar ainda estão sujeitos a cair sob as armas de seus próprios soldados e camponeses, dominados pelos telepatas.

     E para a imensa maioria dos Senhores de Castelos a única defesa contra o poder da família principal é impedir que os Vindhar se aproximem o suficiente para usa-lo.

     Virnala praticou os mesmos exercícios mentais que seu marido, e que todos os da família praticam. Mas com a chegada da fértilidade ela precisou interromper essa rotina. A gestação, já não muito fácil, dos Tondro é perturbada significativamente pela disciplina de fortalecimento mental. Ironicamente a gestação em si mesma protege a futura mãe desde o quarto mês melhor do que ela poderia proteger a si própia se continuasse os exercícios. Mas uma vez nascida a criança, essa defesa cessa.

       Mesmo que estivesse ainda grávida Virnala não poderia ir ao encontro diplomático. Diplomacia e guerra são assuntos inerentemente, exclusivamente, masculinos: mesmo que sejam quase sempre debatidos entre os maridos e suas esposas, longamente, em segredo. E não raro decididos nestes diálogos reservados.

       Poucas esposas eupatridas lamentam a falta de espaço nos ambientes masculinos tanto quanto Virnala, que sempre se considerou uma estrategista militar melhor do que os dois irmãos. Mesmo ela se conformou a discutir em círculos adequados o único tema da diplomacia tido como autoridade preferencial das mulheres: reprodução. 

     As mulheres são quarenta e nove dentre cada cinquenta geneticistas. As Torres Nupciais raramente investem homens com seus mantos, e ainda mais raramente os enviam em missões. Teorica e legalmente as representantes das Torres são observadoras objetivas e devem mostrar indiferença total em relação ao desejo dos eupatridas: elas avaliarão, informarão a Torre Nupcial que as enviou, e trarão a lista de recomendações de casamento para cada eupatrida ordenada por desejabilidade decrescente.  E essas listas serão escrupulosamente seguidas, embora sob o parcimonioso nome de “recomendações nupciais”. O protocolo manda que a enviada das Torres seja solicitada pelo patriarca da linhagem ao patriarca da família e por este à Torre mais próxima, também determina que a geneticista se apresente ao patriarca familiar e comunique diretamente a este suas listas.

    Não está escrito em nenhum lugar que a geneticista irá passar horas, e dias, conversando com cada garota eupatrida, tanto em particular quanto na companhia das demais mulheres da família. Nem está escrito que essas conversas irão influenciar fortemente o resultado final dos relatórios da sacerdotiza geneticista, por mais de uma maneira. Mas nenhum adulto mentalmente saudável ignora  o  fato de que para existir neste mundo algo não precisa estar escrito.

     Agora Virnala tem um objetívo próprio a defender nesses encontros extra-oficiais. E não deixaria de estar em casa para receber Difrani daqui a dois dias, nem que a vida de seu bem querido esposo dependesse disso. Oportunidades assim não se repetem em uma vida.

    Elerom até gostaria de ter a atenção de sua esposa mais focada nos problemas da guerra, nas poucas horas de conversa que podia roubar dos deveres para com os imortais. Mas compreendia impossibilidade, justa. A mente de Virnala estava dividida, e o principal interesse dela era o futuro casamento do bebê nos braços dele.

    Ele amava essa pequenina, evidentemente. Mataria e, provavelmente, morreria por ela. Novos Tondro são raros, e preciosos. E a criança sem nome tinha melhores perspectivas genéticas do que qualquer de seus genitores: foi um cruzamento de linhagens particularmente inspirado pensado por uma bisavó iniciática de Difrani. 

     Mas com todo o amor que sentia, Elerom não era capaz de concentrar a mente no problema fundamental do futuro casamento quando uma guerra estava tão mais próxima. Uma Guerra de Aniquilação, para piorar a situação.

     Um mês antes Elerom tinha sido convocado para acompanhar o primo, Batalam. Essa a única informação que recebeu do mensageiro, junto com as coordenadas de tempo e espaço do encontro, foi o nome de quem deveria procurar.

     Batalam pertence à linhagem principal da família. Mas, acima de tudo, ele é um dos 55 Imortais. Um dos membros da família cujo poder Xar se manifesta de forma tão extrema que a imaginação não permite conceber nada capaz de mata-los. E seja qual for o ramo de que descendam estes indivíduos integram o concelho decisório presidido pelo patriarca.

    Assim que foi recebido na tenda de acampamento do primo Elerom compreendeu que foi escolhido por sua disciplina mental acima do normal. Outros doze membros de diferentes ramos da família já estavam presentes, todos notórios pela mesma qualidade. E não era menos do que óbvio o motivo dessa seleção.

     Batalam resistiria a qualquer um que os Vindhar pudessem ter enviado, pois qualquer um poderoso o suficiente para nublar a mente de um dos imortais seria precioso demais para ser arriscado em um movimento de abertura de jogo. E qualquer grupo de vindhares numeroso o suficiente para representar sério risco seria avistado a grandes distâncias antes que pudesse chegar perto o suficiente.

    Mesmo assim a chegada de um único Vindhar, escoltado por quinze soldados mal nascidos, foi um alívio para Elerom, e para os demais. Desse ponto em diante eles estavam ali mais ou menos por mero protocolo. Uma demonstração de respeito para com a principal família Xar. Batalam se reuniria com o eupatrida e discutiria o que quer que ele estivesse trazendo, raramente pedindo a opinião de qualquer outra pessoa.

    Para grande surpresa do próprio Elerom foi um dos sempternos escolhidos pelo imortal para essas consultas de fim de tarde.

    Ele e outros três, as quatro mentes mais fortes nesse acampamento. Com algum orgulho Batelam se deu conta de que tinha um quinto da idade do mais novo dentre os demais presentes na reunião de análize dos fatos trazidos pelo telepata.

     Os rostos evidentemente não mostravam nada a respeito da idade dos membros dessa família, a não ser naqueles que tem o Xar corrompido demais para funcionar normalmente. Mas os sempternos conhecem uns aos outros bem o bastante para lembrar datas de aniversário e dados genealógicos. Essas informações representam literalmente a diferença entre a vida e a morte em situações tensas.

    Elerom sempre considerou Batalam o mais tolerante e o mais simpático dentre os imortais. Batalam pertence ao chamado “Oitavo Ciclo” dos 55, um dos mais recentes, mas mesmo os imortais bem mais jóvens do que ele não parecem tão capazes de lidar tão bem com os membros jóvens da família. Até na escolha vocabular esse imortal se aproxima dos eupatridas de outras famílias e dos menos experientes de sua própria, e se distancia dos seus contemporâneos. Pelo menos quando não está entre as paredes eternas do Castelo Central Tondro.

     Sorriso fácil, corpo esguio e rosto quadrado simétrico. O nariz fino e pequeno, e os olhos violeta das linhagens principais. O cabelo amarelo com alguns fios verdes deixado solto lhe chega até os ombros.  Um menino absolutamente incapaz de se embriagar, bebendo caibri de uma taça de ouro, como se fosse água com mel. Mas a leveza dos gestos não desmentia a seriedade das palavras.

     Os Vindhar trouxeram promessa de guerra. E diziam ter provas da legalidade desta. Se fosse verdade, então os Tondro teriam pouca escolha a não ser segui-los. Ou romper com a lei e assumir a defeza dos infratores.

    As famílias se comprometeram, num passado tão longínquo que só quatro dentre os cinco imortais o viveram como adultos, a preservar o Xar. E a impedir que cruzamentos cruzamentos indesejáveis aconteçam. As únicas recomendações das Torres Nupciais que não são sugestões são as negativas, essas interdições precisam ser obedecidas e não se referem meramente a casamentos, dizem respeito à reprodução.    
  
     Todas as famílias Xar do mundo conhecido juram o Acordo Nupcial, cada novo patriarca repete o mesmo juramento em sua Cerimônia de Lealdade, antes de receber os juramentos de seus parentes. Apesar disso, o potencial para subverter as balanças da política e da guerra representa um atrativo grande o suficiente para que violações continuem acontecendo.
  
    Deixando de lado todos os riscos e todos os custos há quem arrisque violar o acordo. Desta vez, se os Vindhar estiverem certos, foram os Sanga.

     Os mestres dos guerreiros de fumaça ocultaram bem seus passos, os monstros que produziram foram muito bem  guardados. Mas aparentemente eles cometeram um erro, que deixou emergir o segredo antes do tempo. Ou então eles conseguiram, já, muito mais do que os espiões dos Vindhar sabem.    

     Caso seja provado que há um novo poder entre os Sanga, esses eupátridas não terão como negar a vilação. Ainda que nenhum monstro seja encontrado.

     As Torres Nupciais formam especialistas em acompanhar as linhagens Xar, e predizer os efeitos de uniões específicas. As sacerdotes geneticistas indicam quando uniões entre famílias diferentes devem ser realizadas e quais linhas devem ser cruzadas, para potencializar o poder das famílias. E para reforçar o domínio da linhagem principal de cada família.

     Mas principalmente as Torres identificam as linhagens cujo cruzamento seria perigoso. Aquelas uniões que irão provavelmente produzir monstros. Uniões que os patriarcas se comprometem a impedir.

    Ocorre que esses monstros são os primeiros portadores de cada novo Xar. As primeiras gerações do poder serão sempre física e mentalmente grotescas, e perigosas. Nada no conhecimento acumulado pelas torres permite prever as deformações, ou saber por quantas gerações elas se repetirão. E ninguém é capaz de advinhar  o poder do novo Xar, antes que ele se manifeste, o que pode demorar dezenas de gerações.  

     Muitas vezes o novo Xar combina elementos dos que o geraram. Mas esse nem sempre é o caso.  As gerações sucessivas de monstros filtram as deformações e o poder, até que este se estabilize, ou até que a linhagem se torne inviável. Nos melhores casos os descendentes saudáveis são poderosos o suficiente para virar o jogo em favor da família que se arriscou para que eles pudessem existir.

     Novas famílias eupatricas contam com o apoio de seus parentes e em troca costumam ampliar o leque de opções deles. Esses aliados naturais algumas vezes se voltam uns contra os outros, mas normalmente prosperam ou se extinguem juntos.

     De acordo com Batalam o enviado diplomático dos Vindhar garante que um dos jóvens Sanga, o filho mais novo da linhagem principal, manifestou um poder totalmente diferente do Xar de seus parentes e ancestrais.
  O Xar Sanga produz em torno de si servos que lembram formas de controno humano, armadas ou não. Geralmente armadas com escudos e espadas, lanças ou em casos mais raros arcos e flechas.

     Os detalhes variam de linhagem para linhagem, e de indivíduo para indivíduo. Linhagens mais poderosas produzem um maior número de guerreiros, mas as qualidades desses guerreiros e o quanto cada um deles difere dos demais varia conforme a personalidade do indivíduo. Alguns guerreiros são quase tão nítidos quanto pessoas reais, imediatamente reconhecíveis, e consegue realizar muito sem a atenção direta de seus mestres, podem até mesmo ser mandados para cumprir tarefas em terras relativamente distantes e ficar dias longe sem se dispersar. Esses servos mais densos e detalhados costumam ter habilidades e raciocínio únicos, e resistem a muito mais do que os servos indistintos que a maioria dos Sanga consegue obter de seu Xar.

     Mas os guerreiros de fumaça, mesmo os capazes de certo nível de raciocínio independente, e decisões próprias, são sempre guerreiros de fumaça. Eles se formam e se dispersam a um pensamento de seus mestres. Obedecem completamente, não possuem vida independente propriamente dita.  

     Este jóvem teria o poder de criar objetos sólidos, e até animais e pessoas. Tão densos, reais e indepententes dele quanto quaisquer outras coisas no mundo. Os Vindhar especulam que ele talvez esteja transportando esses objetos de algum lugar, e não criando os mesmos. De qualquer modo se são objetos densos, reais, independentes da vontade do jóvem, eles provam que a família infringiu o Acordo Nupcial.

     Um acordo poderia salvar os Sanga da aniquilação, mas eles teriam de entregar o garoto e todos os monstros que ainda estiverem vivos para serem destruídos. E pagariam multas a serem estipuladas pelas demais famílias do Conselho Maior. Normalmente, pela letra do acordo, todos os infratores deveriam ser mortos. Mas quem insistir em uma Guerra de Extermínio contra uma das grandes famílias deve estar preperado para lutar quase sozinho, contando apenas com seus aliados mais dependentes, a menos que possa provar que não existe composição possível diante da intransigência dos infratores.

          Mesmo que insistam na intransigência os Sanga podem evitar a guerra, basta que consigam aliados suficientes para estabelecer um equilíbrio de forças que torne a Guerra de Extermínio cara demais para ambos os lados. Nesta circunstância o desfecho provável seria uma série de acordos compensatórios, alguns mais e outros menos simbólicos.

     O envio de um dos seus ao Lago dos Gigantes deixa claro que os Vindhar não estão dispostos a correr o risco de um impasse. Eles pretendem ir à guerra, e lembrarão de todos os que falharem com eles nesse projeto.
     O telepata de 32 anos chegou ao acampamento de Batalam com presentes, e escondeu bem sua surpresa ao dar de cara com um dos famosos imortais. Iodo compreendeu perfeitamente a mensagem, e engoliu em seco os insultos espirituosos com que planejava reduzir o Tondro que viesse encontra-lo à defensiva.  Os imortais são famosos, e tanto fora quanto dentro da própria família eles não o são por sua paciência, ou pela facilidade com que se pode prever o que farão em seguida.  

   Iodo è um homem arrogante, tanto por inclinação quanto por projeto deliberado, mas não é um idiota. Um idiota não seria mandados para o Lago dos Gigantes. Não importa quão poderoso fosse seu Xar.

     O discurso legal, e moral, teria de sustentar a si mesmo. Ninguém mencionaria a divisão de espólios no primeiro dia de conversa. Na presença de um sempterno Iodo faria ameaças, tanto menos veladas quanto mais fraco o interlocutor se mostrasse. Mas não as faria a Batalam.

     O problema das provas era delicado. A menos que a vitória fosse fácil e lucrativa o suficiente para reduzí-lo. E era ainda cedo demais para dizer isso com certesa. Muito dependeria da própria decisão dos imortais, e estes compreendiam bem demais o jogo.

     O encontro não tinha data para terminar, e Iodo o prolongaria ao máximo, por dois motivos. Primeiro porque o elo direto entre ele e o patriarca Vindhar lhe conferia acesso em tempo real a informações privilegiadas, que poderiam reforçar sua posição, enquanto que o imortal levaria dias para comunicar-se com seus pares e o faria por meio de mensageiros sempre menos do que inteiramente confiáveis. Segundo por que Iodo gostava demais de estar longe das terras de sua família e do perigo constante de intrusão mental por parte de seu patriarca. Era muito mais confortável para ele comunicar-se assim, em horas marcadas e por palavras que soavam como sussuros.  

     Depois da terceira noite Elerom começou a procurar uma desculpa para escapar dali. Batalam, que sempre gostou desse primo, colaborou. E Elerom foi mandado para seu castelo, com ordens de voltar com suprimentos: mel, potes com geléias, bebidas, carne seca e queijos finos, iguarias que o sempterno ficou feliz em custear em troca da oportunidade de conhecer logo sua única filha.

     A viágem entre o Lago e o Castelo demora normalmente seis a sete dias nesta época do ano, mas Elerom conseguiu fazê-la em menos de quatro.    

      A reunião poderia ter terminado antes que Elerom chegasse de volta com os suprimentos. Mas isso era irrelevante para ele e para Batalam.

     Essa viágem tinha mais de um objetivo além do declarado aos demais sempternos. E embora fosse simpático ao desejo do jóvem primo de saber se a filha nascera com vida e saúde Batalam estava mais interessado no segundo desses objetivos secretos. Discutidos apenas entre ele e Elerom.    

   
        
    
       

         
    

       

     



                  
      



        

      




   


        

         

     
        


    

      

                  





                

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