ATENÇÃO: NÃO PORNOGRAFICO
Eu de início pretendia publicar aqui somente pornografia, e quase pornografia, deixando os demais gêneros para meu perfil no Deviantart. Mas, contudo, todavia, lá quase todo mundo com quem eu me correspondo esporadicamente adota o idioma gringo. E eu estou com confessa preguiça de traduzir isso, que por outro lado também não quero deixar morrer no HD. É o primeiro capítulo de uma estória de fantasia que eu tenho intenção de continuar (bem verdade que o histórico dessas intenções não é de todo imaculado).
Comentários são bem vindos.
Xar, o Poder Hereditário
Preâmbulo de uma Guerra
Elerom Tondro pegou sua cria pela primeira
vez. Era o sétiom dia do ano, e o sétimo dia de vida da menina fora do ventre
de Virnala. O pequeno ser ainda não tinha um nome, nem menos provisório.
Elerom e sua esposa pertencem a um dos
ramos menores da família Tondro. O sangue Xar
que os eleva e a seus parentes acima dos demais humanos foi algo diluído
por relações com plebeus. No caso desta linhagem isso ocorreu vinte e duas
gerações atrás, escolha infeliz de um indivíduo egoísta, mas esse é uma
excessão. Quase sempre aqueles irmãos que não foram escolhidos para herdar o
patrimônio da linhagem são unidos a linhas muito mais fracas de Xar, ou
totalmente desprovidas dele: As Torres Nupciais compreendem a necessidade de reforçar
a hierarquia dentro das famílias, embora
aleguem não interferir nas disputas pelo poder entre diferentes famílias
eupátridas.
Felizmente para Elerom, nesse caso a
mistura não enfraqueceu o Xar aponto de
borrar seus efeitos a ponto de torná-los irreconhecíveis. Quando isso acontece
os eupátridas são forçados a vidas de humilhação na periferia do mundo de seus
parentes, e a confiar apenas em direitos legais e somente na própria formação
militar para assegurar esses direitos.
Como todos os Tondro dignos do nome a filha
de Elerom foi gerada no primeiro dia do ano, e nasceu no primeiro dia do ano
seguinte. E ela jamias adoecerá, jamais irá adquirir cicatrizes ou mutilações,
jamais conhecerá a decadência da velhice.
Antes desta cria Virnala Tondro, escolhida
pelas Torres para ser esposa de Elerom, teve dezessete gestações. Nenhuma delas resultou em uma vida
viável.
Já que nasceu viva a menina ainda sem nome
será alvo de conspirações e atentados durante todo o tempo em que permanecer
respirando. Outras famílias Xar tentarão matá-la para enfraquecer os Tondro.
Outras linhagens Tondro tentarão matá-la para gerar mais espaço para si mesmas.
E foras da lei tentarão sequestrá-la para através dela introduzir o precioso
Xar em suas próprias desinteressantes linhagens.
Mas pelo menos por agora, enquanto está nos
braços de seu pai, a menina sem nome está protegida.
O quarto do casal está quente e
confortável, a pesar do frio que faz lá fora. E a iluminação confortavel
proveniente da malha de cipós de disgu que cobrem as paredes e o teto se
combina com o odor doce dos incensos que estimulam a planta a produzir essa
luz, criando uma sensação quase hipnótica de serenidade e satisfação. Esta
planta e o incenso associado a ela foram deliberadamente selecionados pela
intencidade do efeito, suficiente para obter letárgica obediência de quase
qualquer um que não pertença à família. Mas plantas similares são comuns em
castelos eupatridas, e podem ser encontradas até mesmo em algumas residências
de mal nascidos.
Pelas vantágens que trás o Xar dos Tondro
é mais invejado do que muitos outros. Saúde e vigor sobre-humanos; o poder de
regenerar completamente partes do corpo tais como braços e pernas decepados,
olhos e órgão perfurados ou arrancados do corpo; imunidade a venenos, exceto
alguns raros, e caros, extratos preparados especificamente para afetá-los; além
de uma pequena vantágem adicional. E também, é claro, a eterna juventude.
Mas mesmo com tudo isso os Tondro estão no
limbó esfumaçado que separa as Grandes Casas das famílias Xar menos relevantes.
Uma posição que causa infelicidade em muitos Tondro, e que resulta de milênios
de lenta decadência. Milênios fixados na memória de muitos dentre os principais
membros da família.
As terras Tondro não se
expandiram mais do que cinco vezes desde que o primeiro dos sempternos
considerados como “imortais” nasceu. No mesmo período algumas famílias
adquiriram muito mais tanto proporcionalmente quanto em termos absolutos, e
várias outras saíram do nada para elevar-se acima dos sempternos.
Bem verdade que, também nesse período,
muitas outras casas foram do topo da hierarquia Xar à inexistência. Mas o
orgulho de regra fecha os olhos dos Tondro a esta comparação, que lhes seria
favorável. Eles lembram, ao invés disso, que o número de membros da família oscila
em torno do mesmo marco desde os anos em que a Cidadela-Fortificada dos Tondro
ficou pronta.
Esta noite Elerom será afastado de sua
pequena fortaleza muito antes de o Sol brotar no horizonte pelo mesmo assunto
que o impediu de estar presente durante o parto de sua primeira descendente.
Uma guerra de extermínio, que poderia em tese abrir finalemtne algum espaço
para o crescimanto da família.
Seria a primeira guerra dessa escala em
seiscentos anos. Durante a última Elerom ainda era um jóvem tentando conquistar
reputação em duelos e nos combates em festivais sazonais. Uma das maneiras de
imprecionar as Torres Nupciais e influenciar positivamente a escolha delas.
Os Vindhar estão dando início ao movimento
dàs pesadas e imprevizíveis engrenágens da Grande Guerra, desta vez. Um deles veio pessoalmente até o Lago dos
Gigantes, que fica na metade do caminho entre o primeiro marco geográfico das
terras Tondro e a Cidadela-Fortificada dos imortais, trazendo uma reivindicação
justa. Ou, pelo menos, juridicamente inafastável.
Em se tratando dos Vindhar a visita em sí
já carrega toda a intimidação necessária para acordar qualquer família
eupátrida e já garante toda a atenção necessária ao grave tópico. Os Vindhar
são a primeira dentre as famílias eupátridas atuais, e se um de seus membros
avançasse alem daquele ponto em direção à cidadela Tondro isso já seria uma
declaração de guerra conforme os tratados vigentes entre essas famílias.
O Xar dos Vindhar, que lhes trouxe a
primazia, ameaça qualquer um de quem eles se aproximem.
Os Vindhar escutam pensamentos alheios e
quando querem também os esculpem, de acordo com os próprios interesses. Os
membros da primeira dentre as nobres famílias podem ver, ouvir e sentir a
partir dos corpos de outros, e quando lhes convém eles falam, amam e matam
desse modo. Em seu próprio território a família controla os mal nascidos como
marionetes de carne, sempre que isso é conveniente. Raramente algum dos súditos
percebe ou guarda memória disso.
Um degral acima nessa pirâmide o patriarca
da família desfruta de controle absoluto sobre seus parentes. Na Cerimônia de
Lealdade cada membro da famíla abre sua mente para o Senhor da
Cidadela-Fortificada, entregando a ele os mapas e sigilos necessários para que
um telepata assuma total controle sobre a mente e o poder de outro. Graças a
isso o elo entre o patriarca e seus parentes se intensifica o suficiente para
que o primeiro se comunique com segundo em qualquer lugar do mundo, não apenas
nos limites das terras da família. Embora neste caso a ligação seja imperfeita,
fraca demais para permitir efetivo controle.
Poucas defesas, exceto a distância física,
são capazes de proteger alguém contra os Vindhar. Ainda que parcialmente.
Os Tondro estão no seleto grupo dos que
não ficam completamente indefesos diante dos telepatas. Suas mentes são
difíceis de invadir. E com o passar dos séculos elas se tornam quase inexpugnáveis,
graças a exercícios de disciplina mental diários diligentemente praticados para
blindar cada membro da família contra os Vindhar. Se a disciplina nem sempre á
perfeita ao menos ela costuma durar o suficiente para que o Tondro sob ataque
fuja, ou mate o Vindhar que tenta dominá-lo.
No seleto grupo, junto com os Tondro, está
a família Sanga. Mestres dos chamados “Guerreiros de Fumaça”.
Embora não sejam mais difíceis de
controlar que o mal nascido médio os Sanga criam com seu Xar figuras de
contornos vagamente humanos aparentemente compostas de fumaça escura mas cujas
armas de fumaça matam tão bem quanto as correlatas de aço. Esses servos
impessoais podem ser programados com antecedência para ignorar comandos e
atacar até que o telepata que assumiu o
cotrole da mente de seu mestre esteja morto. Esse mesmo gatilho é usado
para proteger os Sanga de tentativas de assassinato que sejam feitas enquanto
eles dormem e nem mesmo o mestre conseguiria parar os guerreiros de névoa
depois que o gatilho é acionado.
Dentre as grandes famílias os Pergo são os
únicos que contam com alguns membros totalmente imunes ao Xar dos Vindhar.
Ainda que o patrianca da principal família se dedicasse pessoalmente e
investisse todo o poder mental da família
combinado em um único ponto o mais fraco desses Pergo estaria fora de
seu alcance.
Chamados de “Barqueiros” os Pergo governam
vastas planices alagadas, cortadas por rios largos e estreitos, doces e
salinos. E também atravessam os dois rios que supostamente separam os mortos
dos vivos. Cadáveres se levantam sob as órdens dos Pergo para lutar por eles e
servi-los. Quando esses cadáveres pertencem a mal nascidos e a eupatridas de
outras famílias eles agem apenas enguanto
o Xar que os convocou continua a alimenta-los e são incapazes de
desobedecer as ordens de quem os trouxe de volta. Mas alguns dentre os mais
poderosos Pergo conseguem manter a si mesmos ativos, com seu poder interno,
livres para agir como desejarem e indetectáveis por quaisquer telepatas.
Os Lagram, chamados Animalistas ou
Metamorfos, são considerados uma família menor, atualmente. A maioria das
linhagens nasce com a capacidade de adotar a forma de um animal, e mesclar essa
forma alternativa com a humana em diversas combinações. O estado flúido de seus
pensamentos permite que escapem dos Vindhar em alguma medida. São notórios os
casos em que um dos telepatas insistiu em perseguir certo Lagram no labirinto
de sua mente não humana e terminou a aventura irreversivelmente insano.
Mas
mesmo esses afortunados cujo Xar oferece graus de proteção contra os Vindhar
ainda estão sujeitos a cair sob as armas de seus próprios soldados e
camponeses, dominados pelos telepatas.
E para a imensa maioria dos Senhores de
Castelos a única defesa contra o poder da família principal é impedir que os
Vindhar se aproximem o suficiente para usa-lo.
Virnala praticou os mesmos exercícios
mentais que seu marido, e que todos os da família praticam. Mas com a chegada
da fértilidade ela precisou interromper essa rotina. A gestação, já não muito
fácil, dos Tondro é perturbada significativamente pela disciplina de
fortalecimento mental. Ironicamente a gestação em si mesma protege a futura mãe
desde o quarto mês melhor do que ela poderia proteger a si própia se
continuasse os exercícios. Mas uma vez nascida a criança, essa defesa cessa.
Mesmo que estivesse ainda grávida
Virnala não poderia ir ao encontro diplomático. Diplomacia e guerra são
assuntos inerentemente, exclusivamente, masculinos: mesmo que sejam quase
sempre debatidos entre os maridos e suas esposas, longamente, em segredo. E não
raro decididos nestes diálogos reservados.
Poucas esposas eupatridas lamentam a
falta de espaço nos ambientes masculinos tanto quanto Virnala, que sempre se
considerou uma estrategista militar melhor do que os dois irmãos. Mesmo ela se
conformou a discutir em círculos adequados o único tema da diplomacia tido como
autoridade preferencial das mulheres: reprodução.
As mulheres são quarenta e nove dentre
cada cinquenta geneticistas. As Torres Nupciais raramente investem homens com
seus mantos, e ainda mais raramente os enviam em missões. Teorica e legalmente
as representantes das Torres são observadoras objetivas e devem mostrar
indiferença total em relação ao desejo dos eupatridas: elas avaliarão,
informarão a Torre Nupcial que as enviou, e trarão a lista de recomendações de
casamento para cada eupatrida ordenada por desejabilidade decrescente. E essas listas serão escrupulosamente
seguidas, embora sob o parcimonioso nome de “recomendações nupciais”. O
protocolo manda que a enviada das Torres seja solicitada pelo patriarca da
linhagem ao patriarca da família e por este à Torre mais próxima, também
determina que a geneticista se apresente ao patriarca familiar e comunique
diretamente a este suas listas.
Não está escrito em nenhum lugar que a
geneticista irá passar horas, e dias, conversando com cada garota eupatrida,
tanto em particular quanto na companhia das demais mulheres da família. Nem
está escrito que essas conversas irão influenciar fortemente o resultado final
dos relatórios da sacerdotiza geneticista, por mais de uma maneira. Mas nenhum
adulto mentalmente saudável ignora
o fato de que para existir neste
mundo algo não precisa estar escrito.
Agora Virnala tem um objetívo próprio a
defender nesses encontros extra-oficiais. E não deixaria de estar em casa para
receber Difrani daqui a dois dias, nem que a vida de seu bem querido esposo
dependesse disso. Oportunidades assim não se repetem em uma vida.
Elerom até gostaria de ter a atenção de sua
esposa mais focada nos problemas da guerra, nas poucas horas de conversa que podia
roubar dos deveres para com os imortais. Mas compreendia impossibilidade,
justa. A mente de Virnala estava dividida, e o principal interesse dela era o
futuro casamento do bebê nos braços dele.
Ele amava essa pequenina, evidentemente.
Mataria e, provavelmente, morreria por ela. Novos Tondro são raros, e
preciosos. E a criança sem nome tinha melhores perspectivas genéticas do que
qualquer de seus genitores: foi um cruzamento de linhagens particularmente
inspirado pensado por uma bisavó iniciática de Difrani.
Mas com todo o amor que sentia, Elerom não
era capaz de concentrar a mente no problema fundamental do futuro casamento
quando uma guerra estava tão mais próxima. Uma Guerra de Aniquilação, para
piorar a situação.
Um mês antes Elerom tinha sido convocado
para acompanhar o primo, Batalam. Essa a única informação que recebeu do mensageiro,
junto com as coordenadas de tempo e espaço do encontro, foi o nome de quem
deveria procurar.
Batalam pertence à linhagem principal da
família. Mas, acima de tudo, ele é um dos 55 Imortais. Um dos membros da
família cujo poder Xar se manifesta de forma tão extrema que a imaginação não
permite conceber nada capaz de mata-los. E seja qual for o ramo de que
descendam estes indivíduos integram o concelho decisório presidido pelo
patriarca.
Assim que foi recebido na tenda de
acampamento do primo Elerom compreendeu que foi escolhido por sua disciplina
mental acima do normal. Outros doze membros de diferentes ramos da família já estavam
presentes, todos notórios pela mesma qualidade. E não era menos do que óbvio o
motivo dessa seleção.
Batalam resistiria a qualquer um que os Vindhar
pudessem ter enviado, pois qualquer um poderoso o suficiente para nublar a
mente de um dos imortais seria precioso demais para ser arriscado em um
movimento de abertura de jogo. E qualquer grupo de vindhares numeroso o
suficiente para representar sério risco seria avistado a grandes distâncias antes
que pudesse chegar perto o suficiente.
Mesmo assim a chegada de um único Vindhar,
escoltado por quinze soldados mal nascidos, foi um alívio para Elerom, e para
os demais. Desse ponto em diante eles estavam ali mais ou menos por mero
protocolo. Uma demonstração de respeito para com a principal família Xar. Batalam
se reuniria com o eupatrida e discutiria o que quer que ele estivesse trazendo,
raramente pedindo a opinião de qualquer outra pessoa.
Para grande surpresa do próprio Elerom foi
um dos sempternos escolhidos pelo imortal para essas consultas de fim de tarde.
Ele e outros três, as quatro mentes mais
fortes nesse acampamento. Com algum orgulho Batelam se deu conta de que tinha
um quinto da idade do mais novo dentre os demais presentes na reunião de
análize dos fatos trazidos pelo telepata.
Os rostos evidentemente não mostravam nada
a respeito da idade dos membros dessa família, a não ser naqueles que tem o Xar
corrompido demais para funcionar normalmente. Mas os sempternos conhecem uns
aos outros bem o bastante para lembrar datas de aniversário e dados
genealógicos. Essas informações representam literalmente a diferença entre a vida
e a morte em situações tensas.
Elerom sempre considerou Batalam o mais
tolerante e o mais simpático dentre os imortais. Batalam pertence ao chamado “Oitavo
Ciclo” dos 55, um dos mais recentes, mas mesmo os imortais bem mais jóvens do
que ele não parecem tão capazes de lidar tão bem com os membros jóvens da
família. Até na escolha vocabular esse imortal se aproxima dos eupatridas de outras
famílias e dos menos experientes de sua própria, e se distancia dos seus
contemporâneos. Pelo menos quando não está entre as paredes eternas do Castelo
Central Tondro.
Sorriso fácil, corpo esguio e rosto quadrado simétrico.
O nariz fino e pequeno, e os olhos violeta das linhagens principais. O cabelo
amarelo com alguns fios verdes deixado solto lhe chega até os ombros. Um menino absolutamente incapaz de se
embriagar, bebendo caibri de uma taça de ouro, como se fosse água com mel. Mas
a leveza dos gestos não desmentia a seriedade das palavras.
Os Vindhar trouxeram promessa de guerra. E
diziam ter provas da legalidade desta. Se fosse verdade, então os Tondro teriam
pouca escolha a não ser segui-los. Ou romper com a lei e assumir a defeza dos
infratores.
As famílias se comprometeram, num passado
tão longínquo que só quatro dentre os cinco imortais o viveram como adultos, a
preservar o Xar. E a impedir que cruzamentos cruzamentos indesejáveis
aconteçam. As únicas recomendações das Torres Nupciais que não são sugestões
são as negativas, essas interdições precisam ser obedecidas e não se referem meramente
a casamentos, dizem respeito à reprodução.
Todas as famílias Xar do mundo conhecido
juram o Acordo Nupcial, cada novo patriarca repete o mesmo juramento em sua
Cerimônia de Lealdade, antes de receber os juramentos de seus parentes. Apesar
disso, o potencial para subverter as balanças da política e da guerra
representa um atrativo grande o suficiente para que violações continuem
acontecendo.
Deixando de lado todos os riscos e todos os
custos há quem arrisque violar o acordo. Desta vez, se os Vindhar estiverem
certos, foram os Sanga.
Os mestres dos guerreiros de fumaça ocultaram
bem seus passos, os monstros que produziram foram muito bem guardados. Mas aparentemente eles cometeram um
erro, que deixou emergir o segredo antes do tempo. Ou então eles conseguiram,
já, muito mais do que os espiões dos Vindhar sabem.
Caso seja provado que há um novo poder
entre os Sanga, esses eupátridas não terão como negar a vilação. Ainda que nenhum
monstro seja encontrado.
As Torres Nupciais formam especialistas em
acompanhar as linhagens Xar, e predizer os efeitos de uniões específicas. As
sacerdotes geneticistas indicam quando uniões entre famílias diferentes devem
ser realizadas e quais linhas devem ser cruzadas, para potencializar o poder das
famílias. E para reforçar o domínio da linhagem principal de cada família.
Mas principalmente as Torres identificam
as linhagens cujo cruzamento seria perigoso. Aquelas uniões que irão
provavelmente produzir monstros. Uniões que os patriarcas se comprometem a
impedir.
Ocorre que esses monstros são os primeiros
portadores de cada novo Xar. As primeiras gerações do poder serão sempre física
e mentalmente grotescas, e perigosas. Nada no conhecimento acumulado pelas
torres permite prever as deformações, ou saber por quantas gerações elas se
repetirão. E ninguém é capaz de advinhar o poder do novo Xar, antes que ele se
manifeste, o que pode demorar dezenas de gerações.
Muitas vezes o novo Xar combina elementos
dos que o geraram. Mas esse nem sempre é o caso. As gerações sucessivas de monstros filtram as
deformações e o poder, até que este se estabilize, ou até que a linhagem se
torne inviável. Nos melhores casos os descendentes saudáveis são poderosos o
suficiente para virar o jogo em favor da família que se arriscou para que eles
pudessem existir.
Novas famílias eupatricas contam
com o apoio de seus parentes e em troca costumam ampliar o leque de opções
deles. Esses aliados naturais algumas vezes se voltam uns contra os outros, mas
normalmente prosperam ou se extinguem juntos.
De acordo com Batalam o enviado
diplomático dos Vindhar garante que um dos jóvens Sanga, o filho mais novo da
linhagem principal, manifestou um poder totalmente diferente do Xar de seus
parentes e ancestrais.
O Xar Sanga produz em torno de si servos que lembram formas de controno
humano, armadas ou não. Geralmente armadas com escudos e espadas, lanças ou em
casos mais raros arcos e flechas.
Os detalhes variam de linhagem para
linhagem, e de indivíduo para indivíduo. Linhagens mais poderosas produzem um
maior número de guerreiros, mas as qualidades desses guerreiros e o quanto cada
um deles difere dos demais varia conforme a personalidade do indivíduo. Alguns
guerreiros são quase tão nítidos quanto pessoas reais, imediatamente
reconhecíveis, e consegue realizar muito sem a atenção direta de seus mestres, podem
até mesmo ser mandados para cumprir tarefas em terras relativamente distantes e
ficar dias longe sem se dispersar. Esses servos mais densos e detalhados
costumam ter habilidades e raciocínio únicos, e resistem a muito mais do que os
servos indistintos que a maioria dos Sanga consegue obter de seu Xar.
Mas os guerreiros de fumaça, mesmo os
capazes de certo nível de raciocínio independente, e decisões próprias, são
sempre guerreiros de fumaça. Eles se formam e se dispersam a um pensamento de
seus mestres. Obedecem completamente, não possuem vida independente propriamente
dita.
Este jóvem teria o poder de criar objetos
sólidos, e até animais e pessoas. Tão densos, reais e indepententes dele quanto
quaisquer outras coisas no mundo. Os Vindhar especulam que ele talvez esteja
transportando esses objetos de algum lugar, e não criando os mesmos. De qualquer
modo se são objetos densos, reais, independentes da vontade do jóvem, eles
provam que a família infringiu o Acordo Nupcial.
Um acordo poderia salvar os Sanga da
aniquilação, mas eles teriam de entregar o garoto e todos os monstros que ainda
estiverem vivos para serem destruídos. E pagariam multas a serem estipuladas
pelas demais famílias do Conselho Maior. Normalmente, pela letra do acordo, todos
os infratores deveriam ser mortos. Mas quem insistir em uma Guerra de Extermínio
contra uma das grandes famílias deve estar preperado para lutar quase sozinho, contando
apenas com seus aliados mais dependentes, a menos que possa provar que não
existe composição possível diante da intransigência dos infratores.
Mesmo que insistam na intransigência os Sanga
podem evitar a guerra, basta que consigam aliados suficientes para estabelecer
um equilíbrio de forças que torne a Guerra de Extermínio cara demais para ambos
os lados. Nesta circunstância o desfecho provável seria uma série de acordos
compensatórios, alguns mais e outros menos simbólicos.
O envio de um dos seus ao Lago dos
Gigantes deixa claro que os Vindhar não estão dispostos a correr o risco de um
impasse. Eles pretendem ir à guerra, e lembrarão de todos os que falharem com
eles nesse projeto.
O telepata de 32 anos chegou ao
acampamento de Batalam com presentes, e escondeu bem sua surpresa ao dar de
cara com um dos famosos imortais. Iodo compreendeu perfeitamente a mensagem, e
engoliu em seco os insultos espirituosos com que planejava reduzir o Tondro que
viesse encontra-lo à defensiva. Os
imortais são famosos, e tanto fora quanto dentro da própria família eles não o são
por sua paciência, ou pela facilidade com que se pode prever o que farão em
seguida.
Iodo è um homem arrogante, tanto por
inclinação quanto por projeto deliberado, mas não é um idiota. Um idiota não
seria mandados para o Lago dos Gigantes. Não importa quão poderoso fosse seu
Xar.
O discurso legal, e moral, teria de
sustentar a si mesmo. Ninguém mencionaria a divisão de espólios no primeiro dia
de conversa. Na presença de um sempterno Iodo faria ameaças, tanto menos
veladas quanto mais fraco o interlocutor se mostrasse. Mas não as faria a
Batalam.
O problema das provas era delicado. A
menos que a vitória fosse fácil e lucrativa o suficiente para reduzí-lo. E era
ainda cedo demais para dizer isso com certesa. Muito dependeria da própria
decisão dos imortais, e estes compreendiam bem demais o jogo.
O encontro não tinha data para terminar, e
Iodo o prolongaria ao máximo, por dois motivos. Primeiro porque o elo direto
entre ele e o patriarca Vindhar lhe conferia acesso em tempo real a informações
privilegiadas, que poderiam reforçar sua posição, enquanto que o imortal
levaria dias para comunicar-se com seus pares e o faria por meio de mensageiros
sempre menos do que inteiramente confiáveis. Segundo por que Iodo gostava
demais de estar longe das terras de sua família e do perigo constante de
intrusão mental por parte de seu patriarca. Era muito mais confortável para ele
comunicar-se assim, em horas marcadas e por palavras que soavam como sussuros.
Depois da terceira noite Elerom começou a
procurar uma desculpa para escapar dali. Batalam, que sempre gostou desse
primo, colaborou. E Elerom foi mandado para seu castelo, com ordens de voltar
com suprimentos: mel, potes com geléias, bebidas, carne seca e queijos finos,
iguarias que o sempterno ficou feliz em custear em troca da oportunidade de
conhecer logo sua única filha.
A viágem entre o Lago e o Castelo demora
normalmente seis a sete dias nesta época do ano, mas Elerom conseguiu fazê-la
em menos de quatro.
A reunião poderia ter terminado antes que
Elerom chegasse de volta com os suprimentos. Mas isso era irrelevante para ele
e para Batalam.
Essa viágem tinha mais de um objetivo além
do declarado aos demais sempternos. E embora fosse simpático ao desejo do jóvem
primo de saber se a filha nascera com vida e saúde Batalam estava mais interessado
no segundo desses objetivos secretos. Discutidos apenas entre ele e Elerom.
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